sábado, 29 de janeiro de 2011

Escravidão

A maior grandiosidade de espírito é servir ao outro, ser escravo, escrava, submisso, submissa é esquecer de si próprio e entregar-se... de corpo, alma, espírito em completa confiança, devoção e adoração a quem foi escolhido para nortear a sua vida... é renunciar ao seu próprio "eu" anulando-se completamente para viver o outro é ceder a seu alterego para ser o outro, pertencer ao outro, fazendo-o feliz concretizando esta felicidade, desde as mínimas coisas até em árduos e duros sacrifícios para unicamente satisfazer suas vontades. Amar de forma incondicional sem cobrar nada, sem esperar nada, sem pedir nada, unicamente se dar, oferecer-se, imolar-se em sacrifícios para simplesmente ver no outro a felicidade com a realização dos seus desejos mais recônditos, suas manias mais sórdidas, seu lado mais obscuro.Ai sim vejo a forma suprema do amor na luta interior para abandonar a si próprio e realizar-se plenamente no outro. Estar em estado de submissão não é ser submisso "estar" é momentâneo não é absoluto...mas quem ESTAR = É !!! ??? em tese sim... mas a premissa fica mais verdadeira quando se É = ESTANDO. Cabem-nos como os escolhidos donos, donas proteger o que é nossa propriedade, o que nos pertence de maneira tão incondicional... Ter não pode ser só TER, quem tem cuida, zela, ampara e protege a quem esta nos dedicando tão alta parcela de sua vida.

Particularmente eu lambo as feridas que provoco !!!

Com todo meu carinho,

Rainha Victoria Catharina

Capitão da Meia-Noite ...

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

Chico Buarque

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

corpo

E vertia-me em lagrimas de desejo, se contorcia noite a dentro dias semanas meses, esse meu corpo chantagista que insiste e não me deixar dormir, se eu não for te procurar.
Em cada gota que verte por ti, sinto todas as tuas lembranças, a me invadir a saudades mais e mais me consumir.
Corpo chora tua presença aqui.

ANDRE RUIZ




quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Para o príncipe que jaz no meu passado

Era um tímido, acanhado,
um mimado, infantil e carente,
esperando movimento do trem à frente,
eu cheguei em tua vida atrasado.

Tropeçando em verbos terminados sem ar,
(amar, calar, revelar, ocultar)
perdia o sujeito, não via o predicado.
Sozinho eu sofria adiantado:
antes, durante e depois de te encontrar.

Pensava eu como pensa todo amante:
nenhum obstáculo conseguiria pagar,
o preço de ser réu confesso perante,
os juízes castanhos do teu olhar.

Éramos objetos nos achados e perdidos,
e nos encontramos depois de esquecidos.
Qual metrô pegar? Qual estação descer?
Esquecia meu nome, mas o teu não podia esquecer.

A cidade, antes estranha, acinzentada,
rua adentro, você pisava, ela sorria;
e quando andava julgando-se só na calçada,
o meu passo acompanhava o dela, que te seguia.

Na linha mais azul da minha vida
foi escrito o teu nome numa estação
raro momento esse de sonho e alegria
sem pensar sequer na futura baldeação.

te perdi na multidão.

E com a tua maestral candura
ensinou-me a mais linda lição:
Não há no mundo relação segura,
existe o risco de contrair paixão.

p.s. para o príncipe que jaz no meu passado.



Poema Luz, Roberto Rodríguez, Junho de 2010.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Eu vejo flores em você


Começaram a amar-se sincronizados. Não souberam quando se fez noite mas também não lhes importou. Saciados de se esculpirem, plenos na certeza de se haverem fundido num, continuaram a arrancar-se beijos que lhes iam nascendo à medida que os iam bebendo; desidratados de amor; secos de se tocarem e de se sentirem e sem poderem parar. Ali ficaram em suspiros, palavras, bocas, arquejos e silêncios plenos. Agora já não eram amigos da alma. Acabavam de se transformar em amigos inteiros de corpo e alma.

in Amores Negados de Ángela Becerra